Apagar ex-relacionamentos da nossa histĂ³ria pessoal Ă© relativamente fĂ¡cil. Pode doer por uns meses, pode causar alguns problemas de logĂstica (quem fica com o quĂª, quem vai buscar o quĂª na casa de quem, a quem o que pertence, etcĂ©tera), financeiros (no caso de separações de gente rica, onde interessa mais quem vai ficar com o iate/a casa de praia do que quem fica com a guarda das crianças e do cachorro) ou atĂ© de saude, caso sua paixĂ£o tenha sido mesmo avassaladora ou a sua ex-metade da laranja seja vingativa e frequente uma facĂ§Ă£o mais
heavy metal de terreiro de macumba.
Mas nada pior do que um ex-relacionamento pode fazer com as suas musicas preferidas, se vocĂª tolamente permitir que uma delas (ou vĂ¡rias) passem a fazer parte dele. Por mais que voce tenha dificuldade de se lembrar do sobrenome do filhodamĂ£e que fez vocĂª chorar hĂ¡ uns anos atrĂ¡s, vocĂª NUNCA vai esquecer da maldita mĂºsica do primeiro encontro, do primeiro beijo, daquele dia dos namorados em TeresĂ³polis, daquela mĂºsica que ele gostava de cantar (e cantava tĂ£o lindo). E se for uma musica querida, tanto pior pra vocĂª, jĂ¡ que a mancha daquela criatura e daquelas memĂ³rias nunca vai sair dali, nem deixando de molho em Ă¡gua sanitĂ¡ria por uns trĂªs mil anos. E se o filhodamĂ£e nao for tĂ£o filhodamĂ£e assim e, assim como a mĂºsica, tambĂ©m for querido... aĂ desiste, amiga. Tente fingir que aquela mĂºsica nunca foi escrita ou gravada, EVER.
Aqueles daffodils jĂ¡ estavam mortos e secos, entĂ£o se fez necessĂ¡rio ir em busca de outros pra dar um restart na jarra. calcei minhas botinhas-de-chuva
tendĂªncia, agarrei minhas tesoura de cozinha e, com tempestade e o escambau, me lancei Ă tarefa.
Logo na porta encontrei isso aqui - shamrocks they aren't, but very
saint patrick's day nonetheless, huh?
Essas aqui tambĂ©m estavam na porta, e crescendo assustadoramente. NĂ£o sei que flores sĂ£o essas (sĂ³ sei que lindas); apenas espero que as raĂzes nĂ£o joguem minha casa no chĂ£o.
Ei-los! Na verdade a parte de trĂ¡s do terreno estĂ¡ coberta deles, mas essa foi a Ăºnica foto que saiu ok (luz ruim e fotografa preguiçosa, that is).
Eis as vitimas! A parte ridĂcula da coisa Ă© que eu tenho pena de cortĂ¡-los. No fundo eu acho que flores devem crescer ao natural, em seus habitats, da terra e para a terra, sem escalas dentro de apartamentos, cozinhas, em cima de mesas ou defuntos. 90% das flores que tenho dentro de casa sĂ£o artificiais. Me sinto uma assassina de plantas quando as corto - o daffodil da direita estava lindo demais para ser cortado e foi poupado da carnificina vegetal.
ParĂªnteses: eu nĂ£o chamo os narcisos pelo seu nome gringo por frescura, nĂ£o. É que eu nunca havia visto um narciso antes de vir para cĂ¡, e foi por este nome (daffodils) que eu os conheci. Acabou grudando.
E a recompensa da jardineira: gin + suco de framboesa + morangos cortadinhos. Pode fazer em casa; nao abuse do gin - ou vodka, caso prefira - mas deixe os morangos dar uma leve marinada no alcĂ³ol antes de pĂ´r o suco. Delicious!
E agora vou ali fazer a dança da chuva ao contrĂ¡rio no quintal, na esperança que essa tempestade de vento vĂ¡ brincar de sacudir arvores em outro canto.