De vez em quando tenho vontade de escrever mais aqui. Sobre assuntos diversos, como eu costumava fazer hĂĄ alguns anos atrĂĄs. E costumava agradar, tanto que meus blogs sempre foram bem visitados e comentados. Claro que sempre existiam os mais
sensĂveis, que ouvem crĂticas sinceras e bem intencionadas (se Ă© que isso existe...) como se fossem julgamentos de carĂĄter e se rebelam ou se afastam; nĂŁo sinto saudades. O que sinto, de vez em quando, Ă© a garganta entalar com alguma coisa, pessoa ou acontecimento e me
parece que seria saudåvel externar uma opinião, nem que fosse para resolver o assunto na minha cabeça. Jå que, pelo menos até o final da década passada, blogs também serviam como catarse, e não apenas para mostrar fotos bonitas, falar mal de celebridades ocas ou trocar a própria opinião por pedaços de plåstico colorido.
Mas aà eu me dou uns dez minutos e esqueço. Completamente.
E prefiro creditar isso Ă falta de importĂąncia do assunto, nĂŁo ao Alzheimer precoce que jĂĄ me preocupa (?).
O fato Ă© que, nessa Ă©poca multimĂdia em que vivemos (onde todo mundo pode ir ali no wordpress ou twitter e criar seu prĂłprio palanque virtual a preço de ocasiĂŁo: grĂĄtis), todo mundo parece acreditar que
precisa ter uma opiniĂŁo sobre todo e qualquer assunto, de preferĂȘncia negativa, e que
precisa externĂĄ-la a qualquer custo. Eu tambĂ©m, oras. Dar pitaco Ă© divertido, quase irresistĂvel, e Ă© difĂcil fazer silĂȘncio quando todos ao seu redor estĂŁo gritando; parece que, calado, vocĂȘ se torna invisĂvel e desinteressante. Sendo expostos a essa vastidĂŁo de informação, temos dois caminhos a seguir: mergulhar nela e tentar processar e regurgitar o mĂĄximo possĂvel ou fechar o browser e ir tirar um cochilo. Confesso que invejo cada vez mais quem opta por dormir, e tenho procurado fazer isso. Pelo que mais nĂŁo seja, minhas olheiras diminuĂram consideravelmente.
Hoje em dia, os Ășnicos blogs que acompanho sĂŁo de amigos ou os "inspirational" (pouco ou nenhum texto e muitas fotos bonitas, poesia ou links interessantes). Dificilmente deixo comentĂĄrios, entĂŁo quase ninguĂ©m sabe que leio. Absorvo o que posso e saio cheia de idĂ©ias; algumas dessas coisas vĂȘm parar aqui, nĂŁo porque quero fazer um blog famoso, popular e "rentĂĄvel", e sim porque Ă© da natureza humana querer compartilhar coisas bonitas.
De resto, quando decido dar um passo fora da trilha demarcada e me encontro num desses "blogs opinativos", acabo me sentindo irritada e cansada. A leitura Ă© difĂcil, pesada, cheia de expletivos, negativismo, reclamaçÔes, acusaçÔes. Ou longas listas de dicas para se tornar uma pessoa perfeita, bacana, adaptada, bem resolvida e justa. Como se fosse possĂvel ser tudo isso. E como se quem escreve esses "manuais de comportamento humano"
fosse tudo isso e estivesse apto a ensinar. Exatamente como eu fazia e, às vezes, acabo fazendo de novo (humanos, né? Errar é o nosso destino). Só que no fundo eu sei que qualquer coisa que eu diga, conclua ou critique, não passa de mais do mesmo. E sinto que envelheço e não tenho mais tempo para ser apenas mais uma voz brigando para ser ouvida.
Acredito que os autores estejam fazendo algo de valor (ainda que para si prĂłprios, o que Ă© justo) e nĂŁo vou negar a importĂąncia do discurso. Mas, ao mesmo tempo, sinto que jĂĄ passei por essa fase anos atrĂĄs, jĂĄ vi, li e escrevi tudo isso antes e nĂŁo pretendo passar mais dez anos repetindo senso comum e a piada de ontem como se fossem novidade. NĂŁo sinto mais vontade de publicar minhas verdades como se elas fossem algo mais do que as
minhas verdades ou como se fossem mudar alguma coisa ou alguĂ©m. As coisas e pessoas mudam quando estĂŁo prontas para isso. Minha adolescĂȘncia (mental e fĂsica) acabou. Acho que agora vou optar a voltar a ser criança e me deixar encantar por coisas pequenas, como essa Ășltima borboleta de verĂŁo pousada na minha janela. E que voou antes que eu conseguisse pegar a cĂąmera para fotografĂĄ-la.
Ela tambĂ©m sabe que tem pouco tempo pela frente (as noites de outono cada vez mais frias). E que as coisas realmente importantes nĂŁo conseguem e nem precisam ser registradas, explicadas, analisadas, esmiuçadas, criticadas ou consertadas. VivĂȘ-las, ainda de que forma imperfeita, basta.
Eu vou tentar.